Há alguns dias, cumpria eu o ritual diário de subir na moto para me deslocar até o trabalho quando reparei que a luz de advertência no painel não havia apagado (em condições normais, ela apagaria pouco após a partida do motor) e no lugar da quilometragem aparecia a palavra LAMP. Não foi preciso ser um especialista para deduzir que uma lâmpada havia queimado, provavelmente por conta da trepidação do último trecho off-road que percorri, e bastou olhar para o conjunto ótico para ver que a luz baixa tinha entregado os pontos aos 16.000 km de vida.
Como isso aconteceu numa quinta-feira e eu já estava com uma motocada programada para o sábado, decidi trocar a lâmpada eu mesmo em vez de esperar uma vaga na agenda da concessionária. Além da óbvia economia de tempo e dinheiro, minha maior motivação foi a necessidade de saber como fazer uma manutenção básica como essa, evento comum em viagens.
Primeiro problema: como acessar o soquete da lâmpada?
Olhando com mais calma a parte traseira do conjunto ótico da GS, percebi que a tampa (redonda, que aparece em primeiro plano) parecia encaixada – e era: com 1/4 de volta no sentido anti-horário ela fica solta e o soquete, junto com a trava da lâmpada e a própria, aparecem. Muito bom, pensei eu. A lâmpada pode ser trocada sem o uso de ferramenta alguma – mas tinha um parafuso no meio do caminho. No meio do caminho tinha um parafuso. Danou-se a troca sem ferramentas.
Como é desmontando que se aprende (mesmo que eventualmente tenha que levar os pedaços para o mecânico juntar), valeu a pena tirar o parafuso para descobrir que isso não é necessário e a trava da lâmpada possui encaixes do outro lado que podem ser retirados com a mão, tornando desnecessário o uso de uma chave.
Não foi difícil encontrar uma lâmpada com as especificações necessárias (uma Philips H7, ao preço de R$ 30: comprei um par, para carregar uma sobressalente na próxima viagem); descoberta a forma de fazer o serviço e com o material necessário na mão, era chegada a hora de meter a mão na massa.
Lâmpada no lugar, trava e seu parafuso encaixados, tampa fechada, lâmpada funcionando… Finalmente tenho meu odômetro de volta (esqueci de dizer, mas vale o comentário: enquanto a lâmpada não é substituída, a palavra LAMP aparece no lugar da quilometragem no painel; a menos que exista uma configuração que não descobri, se a lâmpada queimar não há como saber a distância percorrida antes de trocá-la).
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Já fazia um bom tempo que eu e o Tara, ex-proprietário da DL-1000 V-Strom amarela que apareceu muitas vezes aqui no Diário de Bordo e atual dono de uma BMW F 800 GS Dakar, estávamos correndo atrás de um afastador de alforges para nossas motos: como pretendo utilizar o Texx TX-09 que me atendeu muito bem enquanto possuí a Honda CB1300 Super Four na próxima viagem, precisava resolver o quanto antes essa pendenga.
A peregrinação por lojas, oficinas, mecânicos, artesãos e assemelhados foi longa e desgastante, uma vez que não achávamos quem fizesse o trabalho e, quando encontrávamos um, o valor do serviço não era nada razoável. Como o trabalho não nos parecia complicado, catei alguns pedaços de arame e um rolo de silver tape e fiz um protótipo do afastador.
Rascunho feito, falei por acaso com alguém que entendia do assunto (valeu, Fábio!) que, somente com o protótipo de arame e silver tape, construiu em 30 minutos a primeira versão do afastador com barras redondas de 3/8″ curvadas em uma morsa e soldadas. Uma pendenga de semanas resolvida em minutos.
Essa primeira versão possuía uma tela expandida para dar maior apoio ao alforge, mas nos testes iniciais ela se mostrou desnecessária (os alforges possuem tirantes de fixação que não passariam pelos buracos da tela) e foi limada do projeto na segunda versão, eliminando peso e tornando a peça mais parecida com os afastadores disponíveis no mercado.
Por fim, pintado e montado na moto:
Talvez ainda seja necessário escolher parafusos melhores e uma borracha mais grossa para proteger o suporte da pedaleira (onde o afastador é fixado), mas as arruelas de borracha serviram perfeitamente e o meu ponto de vista foi provado: com boa vontade e a orientação adequada, é possível executar um projeto como esse com poucos gastos – as barras custaram menos de R$ 10 – e ainda aproveitar para descansar a cabeça mexendo na moto.
Terapia? Moto.